quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A Gramática do Bom Humor

MILLÔR FERNANDES

Quando os resultados descobriram a língua, ela já
estava completamente pronta pelo povo. Os eruditos
tiveram apenas que proibir o povo de falar errado.

No princípio era o verbo. Defectivo, naturalmente.

Entre o porquê e por quê há mais bobagem
gramatical do que sabedoria semântica.

Por quê? é filosofia. Porque é pretensão.

Está bem, lingüístas, se dois é ambos,
por que três não é trambos?

As palavras nascem saudáveis e livres,
crescem vagabundas e elásticas, vivem informes,
informais e dinâmicas. Morrem quando contraem
o câncer do significado definitivo
e são recolhidas ao CTI dos dicionários.

Devemos ser gratos aos portugueses.
Se não fossem eles estaríamos até hoje falando
tupi-guarani, uma língua que não entendemos.

É evidente que no princípio foi a interjeição,
Insoptável pelo espanto diante do fogo, do raio.
Depois foi o substantivo para designar a pedra e a
chuva. E logo o adjetivo, que fazia tanta falta para
ofensas. Mas eles continuam insistindo em que no
princípio era o verbo.

Que língua, a nossa!
A palavra oxítona é proparoxítona.

Um comentário:

Bianca disse...

Nada como Milor para tornar nossa língua divertida!!