MILLÔR FERNANDES
Quando os resultados descobriram a língua, ela já
estava completamente pronta pelo povo. Os eruditos
tiveram apenas que proibir o povo de falar errado.
No princípio era o verbo. Defectivo, naturalmente.
Entre o porquê e por quê há mais bobagem
gramatical do que sabedoria semântica.
Por quê? é filosofia. Porque é pretensão.
Está bem, lingüístas, se dois é ambos,
por que três não é trambos?
As palavras nascem saudáveis e livres,
crescem vagabundas e elásticas, vivem informes,
informais e dinâmicas. Morrem quando contraem
o câncer do significado definitivo
e são recolhidas ao CTI dos dicionários.
Devemos ser gratos aos portugueses.
Se não fossem eles estaríamos até hoje falando
tupi-guarani, uma língua que não entendemos.
É evidente que no princípio foi a interjeição,
Insoptável pelo espanto diante do fogo, do raio.
Depois foi o substantivo para designar a pedra e a
chuva. E logo o adjetivo, que fazia tanta falta para
ofensas. Mas eles continuam insistindo em que no
princípio era o verbo.
Que língua, a nossa!
A palavra oxítona é proparoxítona.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
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Um comentário:
Nada como Milor para tornar nossa língua divertida!!
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